O Raposo - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 47 / 111

Por detrás dos óculos, Banford olhou-o fixamente com um ar distante e ausente.

- Se é que já não o perdeu - disse.

Sob a insistência daquele olhar vago e abstrato, emergindo por detrás das grossas lentes, ele tornou-se muito vermelho, quase escarlate, o rosto febril, afogueado.

- Não estou a perceber nada - disse então.

- Se calhar, não. Aliás, não esperava que percebesse - respondeu Banford naquele seu tom suave, distante e arrastado, que tornava as suas palavras ainda mais insultuosas.

Ele inteiriçou-se na cadeira, quedando-se rigidamente sentado, os seus olhos azuis a brilharem, ardentes, no rosto escarlate. Fitava-a agora de sobrolho carregado, um ar de ameaça no rosto tenso.

- Palavra que ela não sabe em que é que se está a meter - continuou Banford na mesma voz plangente, arrastada, insultuosa.

- Mas que é que isso lhe importa, afinal de contas? - disse o jovem, irritado.

- Provavelmente muito mais do que a si - replicou ela, a voz simultaneamente dolente e venenosa.

- Ah, sim?! Pois olhe que continuo sem perceber nada! - explodiu ele.

- É natural. Aliás, não creio que o pudesse perceber - retorquiu ela, evasiva.

- De qualquer forma - disse March, empurrando a cadeira para trás e levantando-se, abrupta -, não serve de nada estar para aqui a discutir. - E, agarrando no pão e no bule do chá, dirigiu-se a passos largos para a cozinha.

Banford, como que em êxtase, passou uma mão pela testa, os dedos trémulos e nervosos errando-lhe ao longo dos cabelos. Depois, voltando costas, desapareceu escada acima.

Henry deixou-se ficar sentado, um ar rígido e carrancudo, de rosto e olhos em fogo. March andava de cá para lá, levantando a mesa. Mas Henry não arredava pé, paralisado pela raiva. Quase que nem dava por ela.





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