- Porquê? - perguntou ele, aproveitando a oportunidade para a fazer falar.
- Porquê? - repetiu ela. Repetira a pergunta em tom trocista, e, apesar do leve rubor que voltara a subir-lhe às faces, olhava para ele comum sorriso nos lábios. - Acho que há muitas e boas razões para isso.
Ele observava-a em silêncio. Sentia que ela lhe escapava, que se conluiara com Banford contra ele. Lá estava de novo aquela estranha expressão, aqueles olhos sardónicos... E sabia que ela riria, trocista, de tudo aquilo que ele dissesse, que zombaria com o ar mais impassível deste mundo de todo o género de vida que ele lhe oferecesse.
- É claro - disse então ele - que não tenciono obrigá-la a fazer nada contra vontade. - Espero bem que não, ora essa! - exclamou Banford em ar indignado.
À hora de se irem deitar, Banford disse a March, na sua voz lamurienta:
- Levas-me a botija de água quente para cima, Nellie? Fazes-me esse favor?
- Sim, claro que sim - respondeu March, com aquela espécie de contrariada condescência que tantas vezes revelava para com a sua querida e volúvel Jill.
As duas mulheres subiram então as escadas.
Passado algum tempo, March disse lá de cima:
- Boa noite, Henry. Já não devo ir aí abaixo. Não se esqueça depois de apagar a luz e de tratar da lareira, está bem?
No outro dia, Henry apareceu de semblante carregado, um ar fechado no jovem rosto sombrio, dir-se-ia quase um menino amuado. Passou o tempo a cogitar, remoendo pensamentos sobre pensamentos. Teria gostado que March casasse com ele e o acompanhasse de volta ao Canadá. E, pelo menos até ali, sempre se convencera de que ela assim faria. Porque a queria, isso não sabia. Mas sabia que a queria. Desejava-a com um tal ardor que todo ele se contorcia de raiva ao saber-se contrariado.