Na sua fúria juvenil, era para ele insuportável que o pudessem contrariar. Mas tinham-no contrariado... E isso era-lhe insuportável, absolutamente insuportável! Sentia-se possuído de uma tal fúria interior que nem sabia o que fazer. Mas optou por controlar-se, por refrear a sua raiva. Pois, apesar de tudo, as coisas ainda podiam vir a alterar-se. Ela ainda podia voltar para ele. É claro que sim. Tinha o dever de o fazer, era a sua obrigação. E tinha todo o direito, nada a podia impedir.
Lá para a tarde, o ambiente voltou a tornar-se bastante tenso. Ele e Banford tinham-se evitado durante todo o dia. De facto, Banford fora até à cidadezinha próxima no comboio das 11 e 20, pois era dia de mercado, devendo depois regressar no das 16 e 25. Quase ao cair da noite, Henry viu a sua figurinha esguia, vestida com um casaco azul-escuro e uma boina larga da mesma cor, a atravessar o prado vindo da estação. Deixou-se ficar onde estava, imóvel debaixo de uma pereira-brava, a terra a seus pés juncada de folhas velhas e secas. E quedou-se a observar aquela figurinha azul que avançava tenazmente pelo prado inverniço, íngreme e escabroso. Tinha os braços cheios de embrulhos, pelo que avançava com grande lentidão, pequena e frágil como era, mas com aquela ponta de diabólica determinação que ele tanto detestava nela. Continuava oculto na sombra da pereira, quase invisível debaixo desta. E se os olhares pudessem tornar desejos em realidades, ela ver-se-ia tolhida por duas enormes grilhetas de ferro, rodeando-lhe os tornozelos à medida que avançava. «Não passas de um estuporzinho, essa é que é essa», murmurava ele entredentes através da distância.