O Raposo - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 73 / 111

- Qual casamento? - perguntou o rapaz.

- Já não me lembro - retorquiu March.

Estava tímida e pouco à vontade naquela tarde, pois, apesar de usar um vestido, tinha um comportamento muito mais comedido do que com o seu uniforme de trabalho. Sentia-se desprotegida e algo exposta, quase imprópria, obscena mesmo, para ali vestida daquela forma.

Falaram então muito por alto da partida de Henry, marcada para a manhã seguinte, conversando de forma vaga e desinteressada, posto o que foram tratar dos habituais preparativos. Mas nenhum ousou falar daquilo que realmente lhe ia no espírito, mostrando-se bastante calmos e amigáveis durante toda a tarde. Banford praticamente não abriu a boca, apesar de lá por dentro se sentir tranquila, quase amável até.

Às nove horas, March trouxe o tabuleiro com o sempiterno chá e um pouco de carnes frias que Banford lá conseguira arranjar. Sendo esta a última ceia, Banford procurava não ser desagradável. Até sentia uma certa pena do rapaz, achando-se na obrigação de ser tão gentil quanto possível.

Quanto a ele, o seu maior desejo era que ela se fosse deitar, no que, por via de regra, era sempre a primeira. Mas ela deixou-se ficar sentada na cadeira, sob a luz do candeeiro, relanceando os olhos pelo livro de quando em vez e vigiando o lume. Pairava agora na sala uma profunda quietude. Então, em voz um tanto abafada March decidiu-se a quebrar o silêncio, perguntando a Banford:

- Que horas são, Jill?

- Dez e cinco - respondeu esta, olhando o relógio de pulso.

Depois, nada mais. De novo o silêncio.

O rapaz erguera os olhos do livro preso entre os joelhos. Tinha no rosto largo e algo felino um ar de muda obstinação, nos olhos atentos e vivos a insistência da espera.





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