- Não ouve? .. Sim, e~ ouço, e tenho-o ouvido. Durante longos... longos… 'longos... muitos minutos, muitas horas, muitos dias, tenho-o ouvido… No entanto, não ousava... Oh, misericórdia, que infeliz desgraçado sou!... Não ousava... Não ousava falar! Colocamo-la viva no túmulo! Não lhe disse que os meus sentidos são apurados? Pois agora digo-lhe que ouvi os seus primeiros movimentos débeis na cavernosa urna. Ouvi-os... há muitos, muitos dias... e contudo não ousava... não ousava folar! E agora... esta noite... Ethelred... ah, ah! o arrombamento da porta do eremita e o grito de morte do dragão e o clangor do escudo!... Diga antes o forçar da sua urna e o ranger dos gonzos de ferro da sua prisão, e os seus esforços na arcada forrada de cobre da cave! Oh, para onde hei-de fugir? Não irá ela surgir de um momento para o outro? Não se precipitará ela sobre mim, lançando-me em cara a minha precipitação? Não ouvi eu os seus passos na escada? Não distingo o pesado e horrível palpitar do seu coração? LOUCO! - E nesta altura ergueu-se furiosamente de um salto e gritou as sílabas, como se nesse esforço abandonasse a alma. - LOUCO! DIGO-LHE QUE ELA ESTÁ NESTE MOMENTO ATRÁS DA PORTA!
Como se da energia sobre-humana das suas palavras se tivesse libertado o poder de um encantamento, os enormes e antigos painéis para onde ele apontava rodaram lentamente, nesse mesmo instante, sobre os pesados gonzos de ébano.