- Passa a tua mão - disse eu - pela parede; não podes deixar de sentir o salitre. Está realmente muito húmido. Mais uma vez te imploro que regressemos. Não? Então vejo-me obrigado a abandonar-te. Mas antes disso vou prestar-te todas as pequenas atenções que estão ao meu alcance.
- O Amontillado! - exclamou o meu amigo, que ainda não recuperara do seu espanto.
- É verdade - respondi eu. - O Amontillado.
Enquanto dizia estas palavras debrucei-me sobre a pilha de ossadas de que já falei antes. Atirando-as para o lado, em breve descobri uma quantidade de tijolos e cimento. Com estes materiais e a minha pá de pedreiro comecei rapidamente a fechar a entrada do nicho.
Ainda mal terminara a primeira carreira de tijolos quando percebi que a embriaguez de Fortunato se havia em grande parte dissipado. O primeiro indício que tive foi um longo gemido vindo das profundezas do nicho. Não era o grito de um homem bêbado. Depois houve um longo e obstinado silêncio. Assentei a segunda fila de tijolos, a terceira e a quarta; e então ouvi a vibração furiosa da corrente. O barulho durou vários minutos, durante os quais, para melhor gozar a minha satisfação, interrompi o trabalho, sentando-me em cima dos ossos. Quando, finalmente, tudo se calou, voltei a pegar na pá e, sem interrupções, acabei a quinta, sexta e sétima filas. A parede dava-me agora pelo peito.