Voltei a parar e, levantando o archote, iluminei com os seus raios fracos a figura atrás do muro.
Uma sucessão de gritos altos e agudos, rebentando subitamente na garganta da forma amarrada, atirou-me, por assim dizer, violentamente para trás. Durante um momento breve hesitei, tremi. Puxei da espada e enfiei-a várias vezes dentro do nicho; mas um instante de reflexão bastou para me tranquilizar. Pousei a mão sobre a parede sólida da catacumba e senti-me satisfeito. Reaproximei-me do muro; respondi aos uivos do homem. Fiz-lhes eco, acompanhei-os, ultrapassei-os em volume e em força. Foi isto que eu fiz e o homem calou-se.
Era então meia-noite e o meu trabalho estava a chegar ao fim. A oitava, nona e décima carreiras estavam prontas. Tinha já feito uma parte da décima primeira e última. Faltava apenas assentar e cimentar a última pedra. Levantei-a com esforço e coloquei-a parcialmente na posição requerida. Mas então escapou-se do nicho um riso abafado que me pôs os cabelos em pé. Sucedeu-se-lhe uma voz triste que dificilmente reconheci como sendo a do nobre Fortunato. A voz dizia:
-Ah! ah! ah!. .. Ah! ah! ah!. .. Uma bela piada, sim, senhor... Uma piada excelente. Havemos de nos rir muito no palácio... Eh! eh! eh!... Bebendo o nosso vinho... Eh! eh! eh!
- O Amontillado - disse eu.
- Eh! eh! eh!... Eh! eh! eh!... Sim, sim, o Amontillado. Mas não estará a fazer-se tarde? Não estarão à nossa espera no palácio, a signora Fortunato e os outros? Vamos embora.
- Sim - disse eu. - Vamos embora.
- Por amor de Deus, Montrésor!
- Sim - disse eu -, por amor de Deus.
Mas em vão esperei uma resposta a estas palavras. Perdi paciência. Chamei em voz alta:
- Fortunato!
Não houve resposta.