Voltei a respirar como um homem livre. O monstro aterrado fugira da casa para sempre. Nunca mais o veria. A minha felicidade era suprema! A culpa do meu negro crime pouco me perturbava. Algumas perguntas haviam sido feitas, mas tiveram resposta rápida. Tinham mesmo feito uma busca - mas, é claro, sem nada encontrarem. Considerava garantida a minha felicidade futura.
No quarto dia a seguir ao crime uma brigada da polícia veio inesperadamente a minha casa e voltou a proceder a uma pesquisa minuciosa dos locais. Certo, contudo, da impenetrabilidade do esconderijo, não senti qualquer embaraço. Os agentes pediram-me que os acompanhasse na busca. Não deixaram por explorar nenhum canto, nenhum ângulo. Finalmente pela terceira ou quarta vez desceram à cave. Nem um dos meus músculos tremeu. O meu coração batia calmamente como o do homem que dorme na inocência. Percorri a cave de ponta a ponta. De braços cruzados sobre o peito andei por todo o lado, descuidado. A polícia estava completamente satisfeita e preparava-se para partir. A alegria do meu coração era demasiado grande para poder ser reprimida. Ardia por dizer nem que fosse uma só palavra, à guisa de triunfo, e de tornar duplamente certa a sua certeza quanto à minha inocência.
- Senhores - disse eu finalmente enquanto subiam as escadas. Sinto-me encantado por ter podido dissipar as vossas suspeitas. Desejo-vos a todos boa saúde e um pouco mais de cortesia. A propósito, senhores, isto é uma casa muito bem construída. - No meu desejo ardente de dizer qualquer coisa com ar de à-vontade mal sabia que palavras pronunciava. - Posso dizer mesmo que é uma casa excelentemente construída. Estas paredes (já se vão embora, senhores?), estas paredes são sólidas. - E aqui, por mera bravata frenética, bati pesadamente com uma bengala que trazia na mão precisamente na parte do muro atrás do qual estava o corpo da esposa do meu coração.