William Wilson - Cap. 1: William Wilson Pág. 26 / 27

O combate durou pouco. Sentia-me de cabeça perdida, possuído de todo o género de excitações selvagens e parecia-me possuir num braço apenas a energia e a potência de uma multidão. Em poucos segundos obriguei-o, simplesmente pela força, a encostar-se aos lambrins e, desse modo, ficando com ele à minha mercê, mergulhei-lhe a espada no peito, uma e outra vez, com uma ferocidade animal.

Nesse instante alguém mexeu no fecho da porta. Apressei-me a evitar qualquer intrusão e voltei imediatamente ao meu adversário moribundo. Mas existirá língua humana que possa descrever condignamente aquele espanto, aquele horror que me possuiu perante o espectáculo que se me deparava? O breve instante durante o qual tinha desviado o olhar bastara, aparentemente, para produzir uma alteração material na disposição do extremo mais afastado da sala. Havia agora - ou assim me pareceu inicialmente, confundido como estava - um grande espelho onde antes se não via nenhum; e, ao aproximar-me dele, presa do maior terror, a minha própria imagem, mas de rosto pálido e toda salpicada de sangue, avançou para mim com passo débil e vacilante.

Assim me pareceu, conforme disse, mas de facto não era assim. Era o meu adversário - era Wilson que nesse momento se erguia diante de mim, na agonia final. A sua máscara e capote jaziam por terra, no local onde os largara. Não havia um só fio das suas roupas, um único traço da sua fisionomia vincada e singular, que não fossem, na mais absoluta das identidades, os meus.

Era Wilson, mas não falava já num sussurro, e por pouco não imaginei que era eu próprio quem falava ao ouvir-lhe estas palavras:

- Tu venceste, e eu sucumbo. Mas de agora em diante estes também morto: morto para o Mundo, para o Céu e para a Esperança! Em mim existias; e vê na minha morte, vê através desta imagem, que é a tua, como te assassinaste fatalmente a ti próprio!.





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