A Origem da Tragédia - Cap. 21: Capítulo 21 Pág. 121 / 164

Num sentido assustador encontrava-se, assim, o homem culto somente na forma de erudito; mesmo as nossas artes poéticas tiveram que se desenvolver por imitações eruditas, e no efeito máximo da rima reconhecemos ainda a origem de nossa forma poética, proveniente de experiências artificiais com uma linguagem estranha, muito erudita. Como deveria parecer incompreensível a um grego verdadeiro, o moderno homem de cultura, em si tão compreensível, que é representado por Fausto, o Fausto que, descontente, se arrojava por todas as faculdades, aquele que se entregava ao diabo e à magia por sede de saber; que somente devemos colocar ao lado de Sócrates para efeito de comparação e para reconhecermos que o homem moderno principia a adivinhar os limites do socrático prazer do conhecimento, exigindo uma costa, enquanto ainda se encontra de permeio ao deserto e extenso mar do saber. Se Goethe diz certa vez a Eckermann, referindo-se a Napoleão: “Sim, meu caro, há também uma produtividade das ações”, então ele lembrou, de maneira ingênua e graciosa, ser o homem não-teórico algo de inacreditável e digno de admiração para o homem moderno, de tal forma que é necessária a sabedoria de um Goethe para achar compreensível e mesmo perdoável uma forma de existência tão estranhável.

E dizem que não se deve ocultar aquilo que se acha escondido no seio desta cultura socrática! O otimismo que crê ser ilimitável! E dizem que ninguém se deve assustar, se amadurecerem os frutos deste otimismo; se a sociedade que se acha impregnada até às camadas mais baixas de uma tal cultura, começar a tremer sob emoções e desejos voluptuosos; se a crença na felicidade terrestre de todos, se a crença na possibilidade de uma tal cultura geral do saber mude com o tempo na exigência ameaçadora de uma tal felicidade terrena alexandrina, na evocação do deus ex machina euripidéico! É necessário perceber:





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