A Origem da Tragédia - Cap. 21: Capítulo 21 Pág. 124 / 164

“Não teria eu de, ó força desejada,

trazer à vida a figura única e amada!”

Depois de, entretanto, ter sido abalada a cultura socrática por dois lados, conseguindo suster o cetro de sua infalibilidade somente com mãos trêmulas, de um lado em virtude do medo de suas próprias consequências que começa a perceber, do outro lado por ele próprio não estar mais convencido da valibilidade eterna de seu fundamento com a antiga, ingênua confiança: é um espetáculo triste ver-se precipitar, ansioso, a dança de seus pensamentos sobre figuras sempre novas, para abraçá-las, soltando-as com asco em seguida, assim como fez Mefistófeles com as sedutoras Lamias. É este o caráter daquele “rompimento”, do qual todos falam como sendo o sofrimento especial da cultura moderna: o homem teórico assusta-se de suas consequências, e descontente não ousa mais confiar-se à terrível corrente do gelo da existência; timidamente permanece na ribanceira, andando de cima para baixo. Nada mais deseja inteiramente. Tanto o acariciou a conceção otimista. Além disso sente que uma cultura, edificada sobre o princípio da ciência é obrigada a desaparecer desde que se torne ilógica, isto é, retrair-se e fugir de suas consequências. A nossa arte externa esta falta comum; debalde está acostumada a se apoiar imitativamente a todos os grandes períodos e naturezas produtores, debalde é reunir-se em torno do homem moderno toda a “Literatura Mundial”, para consolo deste, colocando-se de permeio aos estilos artísticos e aos artistas de todos os tempos, a fim de que ele lhes dê um nome, como Adão aos animais. Ele permanece o eterno esfomeado, o “crítico” sem vontade nem força, o homem alexandrino, que, no fundo, é bibliotecário e revisor, perdendo a vista miseravelmente por causa do pó de livros e de erros tipográficos.





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