A vitória mais difícil alcançada pela imensa coragem e sabedoria de Kant e Schopenhauer, a vitória sobre o otimismo que se mantém oculto na essência da lógica, otimismo que é por sua vez o fundamento de nossa cultura. Se este cria na possibilidade de conhecer e solucionar todos os enigmas do Universo, apoiado nas
aeternae veritates, para ele induvidosas, tratando de espaço, tempo e causalidade como leis totalmente incondicionais de valibilidade comum, então revelou Kant como estes serviam somente para elevar o próprio fenômeno, a obra da Maia, à realidade única e mais elevada, e colocá-las em lugar da essência mais profunda e verdadeira das cousas, impossibilitando com isto o conhecimento desta, isto é, segundo a opinião de Schopenhauer, fazer com que o sonhador adormeça ainda mais profundamente (O mundo como vontade e representação). Com este conhecimento está introduzida uma cultura, que ouso designar como sendo a trágica. O sinal mais importante desta é o fato de ter sido o fim mais elevado mudado de ciência em sabedoria que, não se deixando enganar pelas sedutoras divagações das ciências, defronta com olhar imóvel o quadro total do Universo, procurando compreender neste o sofrimento eterno com simpatizante sentimento de amor, como sendo o sofrimento próprio. Imaginemos uma geração vindoura com este olhar impávido, com este traço entre heroico e monstruoso; pensemos e reflitamos no passo atrevido destes matadores de dragões, a audácia orgulhosa com que dão as costas a todas estas doutrinas de enfraquecimento daquele otimismo, para “viver resolutamente”, no todo e no absoluto. Não seria necessário que o homem trágico desta cultura, com sua autoeducação para a seriedade e o terror desejasse uma arte nova, a arte do consolo metafísico, a tragédia, como desejaria à Helena, que lhe pertence exclamando com Fausto: