A Origem da Tragédia - Cap. 22: Capítulo 22 Pág. 133 / 164

ou se procuram, muito ao contrário, uma forma enganosa e encobridora para a própria rudeza, uma desculpa estética para a própria sobriedade, pobre de sentimentos: no que, por exemplo, penso em Otto Jahn. Deverá, porém, tomar cuidado o mentiroso e o hipócrita com a música alemã; é justamente ela que é, de entre a nossa cultura inteira, o único límpido, puro e ressonante espírito de fogo, do qual e para o qual, como no ensinamento do grande Heráclito de Éfesus, todas as cousas se movimentam em duplo trajeto circulatório: tudo que é chamado agora cultura, formação, civilização, deverá apresentar-se alguma vez, diante do infalível juiz Dionísio.

Recordemo-nos como foi possibilitado ao espírito da filosofia alemã, proveniente da mesma fonte, por meio de Kant e de Schopenhauer, destruir o contente prazer de existência do socratismo científico por comprovância de seus limites, como por tal comprovância se iniciou a consideração muito mais profunda e séria das questões éticas e da arte, que por nós podem ser consideradas como a sabedoria dionisíaca encerrada em conceitos. Qual o caminho que nos designa o mistério da unidade entre a música alemã e a filosofia alemã, se não o caminho de uma nova existência, sobre cujo conteúdo nos podemos informar apenas por analogias helênicas? Pois este valor imenso conserva para nós, que nos achamos colocado entre duas diferentes formas de existência, o exemplo helênico, por nele também se imprimirem em formas clássico-instrutivas todas aquelas passagens e lutas: com a diferença de que nós atravessamos em ordem inversa as grandes épocas principais do ser helênico analogicamente, parecendo, por exemplo, marcharmos agora da época alexandrínica de volta ao período da tragédia.





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