A Origem da Tragédia - Cap. 24: Capítulo 24 Pág. 144 / 164

Assim nos arranca o apolínico da universalidade dionisíaca, encantando-nos para os indivíduos; a estes fixa os nossos sentimentos de compaixão, por estes satisfaz o sentido do belo que anseia por formas grandes e elevadas; faz-nos passar diante de imagens da vida e excita-nos à compreensão profunda do núcleo vital nelas contido. Com a força imensa da imagem, do conceito, do ensinamento ético, da excitação simpática tira o apolínico o homem de sua autodestruição orgiástica e o ilude sobre a universalidade dos acontecimentos dionisíacos à ilusão, de que ele vê uma imagem universal, por exemplo Tristão e Isolda, e que, por intermédio da música, deveria vê-la melhor e mais intimamente. O que não conseguirá a magia sanativa de Apolo, se mesmo em nós pode criar a ilusão de que o dionisíaco em serviço do apolínico poderia aumentar os efeitos deste, e mesmo de que a música em sua maior parte nada mais é senão arte representativa para um conteúdo apolínico?

É naquela harmonia pré-estabelecida, que reina entre o drama perfeito e sua música, que o drama atinge um grau supremo de visibilidade, inacessível para o drama sem música. Assim como, diante de nós, todas as figuras vivas da cena se simplificam para maior clareza da linha ondulante, ressoa o paralelismo destas linhas na mudança das harmonias, que, do modo mais delicado, simpatiza com a apresentação movimentada. Por esta mudança se nos tornam percetíveis relações das cousas de maneira observável, e não de modo abstrato. Será também igualmente por ela que reconheceremos que, somente nestas relações, se revela totalmente a essência de um caráter e de uma linha musical.





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