Capítulo 24: Capítulo 24
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Aqui, porém, surge a força apolínica, dirigida ao restabelecimento do indivíduo quase totalmente quebrado, como o bálsamo sanativo de deliciosa ilusão: repentinamente cremos ver apenas Tristão, como se interroga imóvel e surdamente: “A velha melodia, por que é que ela me desperta?” E o que nos parecia antigamente como um suspiro profundo, partido do núcleo do ser, diz-nos hoje: “deserto e vazio está o mar”. E onde julgávamos desfalecer sem alento, em convulsiva extensão de todos os sentimentos, ligando-nos quase nada a esta existência, ouvimos e vemos hoje somente o herói que, apesar de ferido mortalmente, não morre, com sua exclamação de desespero: “Anseio! Anseio! Ansiar-me da morte, não morrer por ansiedade!” E se, antes, o júbilo da corneta, depois de tal demasia e excesso de tormentos que consumiam, nos cortava o coração como sendo, quase, o maior de todos estes tormentos, então agora está entre nós e este “júbilo em si”, o Kurweval regozijante, voltado ao barco que leva Isolda. O mais profundo sofrimento de nós se apodera, nos livra, de alguma maneira, o co-sofrer do sofrimento primitivo universal, assim como a imagem igualante do mito nos salva da contemplação imediata da ideia universal mais elevada e assim como o pensamento e a palavra nos salvam do derramamento irreprimível da vontade subconsciente. Por aquela maravilhosa ilusão apolínica parece acercar-se de nós próprios o reino da música como um mundo plástico, como se também nele somente se tivesse formado o destino de Tristão e Isolda, como na substância mais suave e expressiva.
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Páginas: 164
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