A Origem da Tragédia - Cap. 25: Capítulo 25 Pág. 147 / 164

Capítulo 22

Imagine o amigo atento o efeito de verdadeira tragédia musical, pura e não mesclada, segundo as suas experiências. Julgo ter descrito o fenômeno deste efeito, segundo os dois pontos de vista, de maneira que ao explicar agora as suas experiências, lembrar-se-á como, no tocante ao mito, se sentiu elevado a uma espécie de suma sabedoria, como se, então, a força visual de seus olhos não fosse somente uma força de superfície, mas como se conseguisse penetrar da música, superfície, mas como se conseguisse penetrar no íntimo, e como se visse diante de si, com o auxilio da música, as agitações da vontade, a luta dos motivos, a corrente “impetuosa das paixões, visíveis, por assim dizer, materialmente, com plenitude de linhas e figuras vivamente agitadas, e como se conseguisse mergulhar com isto até atingir os segredos mais delicados de emoções inconscientes. Enquanto sente, assim, um aumento supremo de seus impulsos dirigidos à contemplação e glorificação, sente ele de maneira idêntica, que esta longa série de efeitos artísticos apolínicos não produz aquele permanecer feliz em contemplação involuntária, que o plástico e o poeta épico, isto é, os verdadeiros artistas apolínicos, nele conseguem originar mediante suas obras de arte: isto é a justificação que conseguiu naquela contemplação do mundo do individuatio, que é o cume e a substância da arte apolínica. Ele vê o mundo transfigurado da cena, negando-o entretanto. Ele contempla o herói trágico em clareza e beleza épicas e, apesar disso, se alegra com sua destruição. Ele entende o processo da cena até o âmago, mas se refugia no incompreensível. Sente as ações do herói como plenamente justificadas, mas é de seu agrado ver que estas ações destruam o seu autor.





Os capítulos deste livro