A Origem da Tragédia - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 42 / 164

Enquanto este último vive nestas imagens, e somente nelas, com agrado prazenteiro, não se cansando de as fitar até nos menores traços, enquanto que, mesmo a imagem do Aquiles zangado, é para ele somente e apenas um quadro, cuja expressão irada ele frui com aquele desejo do sonhar na aparência — de modo dele estar, por este espelho da aparência, preservado contra a unificação e o fundir-se com suas formas — então, comparando, as imagens do lírico nada mais são do que ele mesmo e, por assim dizer, apenas diversas objetivações dele, em virtude do que, como ponto médio móvel deste mundo, ele pode dizer “eu”; só que esta individualidade não é a mesma do que a do homem desperto, empírico-real, mas a única individualidade verdadeiramente existente e eterna, que jaz no âmago de todas as cousas, por cuja cópia o gênio lírico vê até o seu fundo. Figuremo-nos uma vez como ele se descobre a si de permeio a estas cópias como “não-gênio”, isto é, sua “subjetividade”, toda a turba de paixões e movimentos subjetivos do desejo, dirigidos a um objeto determinado, para ele real. Se agora parece como se o gênio lírico e, com ele ligado, o não-gênio fosse uma unidade e como se o primeiro dissesse de si mesmo aquela palavrinha “eu”, então esta aparência já não nos poderá seduzir, como seduziu aqueles que classificavam o lírico como poeta subjetivo. Em verdade é Arquíloco, o homem apaixonadamente ardente, que ama e odeia, nada mais que uma visão do gênio mundial e que exprime simbolicamente sua dor primitiva, naquele exemplo do homem chamado Arquíloco; enquanto que aquele Arquíloco, que quer e deseja subjetivamente, nunca poderá ser poeta. Mas não é mesmo necessário que o lírico só veja diante de si o fenômeno do homem Arquíloco como reflexo da aparência eterna; e a tragédia prova o quanto se pode afastar o mundo visionado pelo lírico desse fenômeno que em verdade está demasiado perto.





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