A Origem da Tragédia - Cap. 16: Capítulo 16 Pág. 93 / 164

Que ele próprio tinha conhecimento desta relação, se verifica na seriedade cheia de dignidade, com a qual ele faz valer a sua apelação divina em todo lugar e ainda diante de seus juízes. Refutá-lo nisto era tão impossível, como impossível era aprovar a sua influência que decompunha os instintos. Neste conflito insolúvel oferecia-se, depois de uma vez ter sido levado ao foro do Estado Grego, somente uma única fórmula de condenação, o desterro; como algo enigmático, inclassificável, inexplicável. Poder-se-ia tê-lo desterrado, sem que posteridade alguma tivesse tido o direito de acusar os Atenienses de uma ação ignóbil. O fato porém de ele ter sido condenado à morte e não ao desterro, parece ter conseguido o próprio Sócrates, com clareza total e sem o horror natural da morte. Ele enfrentou a morte com aquela calma com a qual, segundo a descrição de Platão, deixara, ao alvorecer, o simpósio, como último dos beberrões, a fim de começar um novo dia, enquanto que, atrás dele, permanecem nos bancos e no solo, os comensais adormecidos, para sonhar com Sócrates, o erótico verdadeiro. O Sócrates moribundo tornou-se o ideal novo, nunca dantes visto, da nobre juventude grega. Platão, o jovem grego típico, prostrou-se, diante todos, com toda a dedicação fervorosa de sua alma entusiasta, ante tal figura.





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