Crepúsculo dos Ídolos - Cap. 6: Capítulo 6 Pág. 27 / 106

No que ela diz "Deus observa os corações", ela diz Não aos desejos vitais mais baixos e mais elevados, tomando Deus como Inimigo da Vida... O santo, junto ao qual Deus sente prazer, é um castrado ideal... A vida chega ao fim, onde o "Reino de Deus" começa...

5.

Suposto que se compreendeu o carácter sacrílego de uma tal insurreição contra a vida, tal como ela se tornou quase sacrossanta no interior da moral cristã, também se compreendeu com isso por sorte algo diverso: o que há de inútil, aparente, absurdo, mentiroso em uma tal insurreição. No entanto, uma condenação da vida por parte do vivente permanece sendo em última instância apenas o sintoma de um tipo determinado de vida: sem que com isso se pergunte se uma tal condenação tem ou não razão de ser. Se precisaria ter uma posição fora da vida, e, por outro lado, conhecê-la tão bem quanto um, quanto muitos, quanto todos que a viveram, para se ter antes de tudo o direito de tocar o problema do valor da vida: razões suficientes para se compreender que esse problema é inacessível para nós. Quando falamos de valores, falamos sob a inspiração, sob a óptica da vida: a vida mesma nos obriga a instaurar valores, a vida mesma valora através de nós quando instauramos valores... Daí se segue que também aquela contranatureza da moral, que toma Deus por conceito contrário e condenação da vida, é apenas um juízo de valor da vida. - De que vida? De que tipo de vida? - Mas eu já dei a resposta: da vida decadente, enfraquecida, cansada, condenada. A moral, tal como foi entendida até aqui - como por fim foi ainda formulada por Schopenhauer, como "negação da vontade de vida" -, é o próprio instinto da décadence que se transforma em imperativo.





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