O Triunfo dos Porcos - Cap. 9: CAPÍTULO IX Pág. 76 / 94

Mas se havia grandes agruras a arrostar, estas eram compensadas pelo fato de a vida agora ter muito mais dignidade. Havia mais canções, mais discursos, mais desfiles. Napoleão determinara que uma vez por semana houvesse uma coisa chamada Manifestação Espontânea, cuja finalidade era comemorar as lutas e triunfos da Granja dos Bichos. À hora marcada os animais deviam abandonar o trabalho e desfilar pelo terreno da granja, em formação militar, os porcos à frente, depois os cavalos, depois as vacas, depois as ovelhas e, por último, as aves. Os cachorros enquadravam a formatura e à testa marchava o garnisé preto de Napoleão. Sansão e Quitéria conduziam sempre a bandeira verde com o desenho do chifre e da ferradura e a legenda "Viva o Camarada Napoleão". A seguir havia recitação de poemas compostos em honra de Napoleão, um discurso de Garganta dando detalhes dos últimos aumentos na produção de gêneros, e no momento exato a espingarda dava um tiro. Quem mais gostava das Manifestações Espontâneas eram as ovelhas, e se alguém se queixava (havia quem o fizesse, quando os porcos ou os cachorros não andavam por perto) de que aquele negócio era uma perda de tempo e obrigava a ficar bom pedaço no frio, as ovelhas invariavelmente calavam o insatisfeito com um ensurdecedor balido de "Quatro pernas bom, duas pernas ruim!" De modo geral, porém, os bichos gostavam daquelas celebrações. Achavam confortador serem relembrados de que, afinal, não tinham patrões e todo trabalho que enfrentavam era em seu próprio benefício. E assim, à custa das cantorias, dos desfiles, das estatísticas de Garganta, do estrondo da espingarda, do cocoricó do garnisé e do drapejar da bandeira, conseguiam esquecer que estavam de barriga vazia, pelo menos a maior parte do tempo.





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