Tinha o ciclope, nos seus grandes rebanhos, bodes de forte corpulência. Escolhi os mais gordos, cuidadosamente, e atei-os três a três. Os do meio levavam cada um, agarrado à espessa e comprida lã da barriga, um dos meus camaradas. O bode mais gordo reservei-o para mim. Segurei-me também à sua lã, na mesma posição, e enchi-me de coragem.
Mas ficámos quietos até ao amanhecer... Rompeu o dia, e o ciclope chamou o rebanho para o fazer sair. Os animais passavam ao alcance das suas mãos. Apalpava-os no dorso, acarinhava-os, e, por fim, deixava-os sair. Não desconfiou da nossa manha! Corriam os bodes, e lá iam com eles os prisioneiros de Polifemo! O último a sair foi o meu. Polifemo, que o preferia a todos, acariciou-o longa mente e queixou-se-lhe da minha vingança:
- Ah! soubesses tu, exclamava, onde pára o tal patife chamado NINGUÉM e decerto mo dirias. Se lhe deito a mão, esborracho-o e engulo-o num abrir e fechar de olhos. Ao menos, castigaria a Infâmia que ele praticou, cegando-me e zombando da minha credulidade.
Eu, muito calado, cosia-me com a barriga do carneiro, e agarrava-me aos pêlos da sua lã macia e fofa com toda a força das minhas