Estou aqui. O sol lança seus jorros de luz sobre essa face de Paris, purificando-lhe as linhas, pondo seus reflexos nos vidros, alegrando os telhados, abrangendo as cruzes douradas, branqueando os muros e transformando a atmosfera num véu de gaze. Formam-se grandiosos contrastes com as sombras fantásticas; se o céu está de um lindo azul, se os sinos dobram, então admira-se dali uma dessas magias eloqüentes que a imaginação jamais esquece, de que se fica idólatra, apaixonado como por um maravilhoso aspecto de Nápoles, de Istambul ou das Flóridas. Não falta nenhuma harmonia a esse concerto. Ali murmuram o ruído do mundo e a poética paz da solidão, a voz de um milhão de seres e a voz de Deus. Ali jaz uma capital repousada sob os tranqüilos ciprestes do Père-Lachaise.
Numa manhã de primavera, no momento em que o sol fazia brilhar todas as belezas dessas paisagens, eu as admirava encostado a um grande olmeiro cujas flores o vento agitava. E, ao aspecto desses soberbos e sublimes quadros, pensava amargamente no desprezo que nós franceses professamos, até nos livros, pelo nosso país de hoje. Amaldiçoava esses pobres ricos, que, desgostados da bela França, vão comprar a peso de ouro o direito de desdenhar da pátria, visitando a galope, examinando através de um binóculo os pontos dessa Itália tornada tão vulgar.