Capítulo 1: O PAI GORIOT
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Apostava forte, perdia ou ganhava muito, e acabou por se habituar à vida exorbitante dos jovens de Paris. Com os seus primeiros ganhos, tinha reenviado 1500 francos à mãe e às irmãs, acompanhando este envio de belos presentes. Apesar de ter anunciado querer deixar a Casa Vauquer, ainda lá estava nos últimos dias de Janeiro e não sabia como de lá sair. Os jovens estão submetidos quase todos a uma lei aparentemente inexplicável, mas cuja razão vem da sua própria juventude e da espécie de fúria com a qual se atiram aos prazeres. Ricos ou pobres, nunca têm dinheiro para as necessidades da vida, enquanto este nunca falta para os caprichos. Pródigos em tudo aquilo que se obtém por crédito, são sovinas em tudo aquilo que se paga a pronto e parecem vingar-se daquilo que não têm, dissipando tudo o que podem ter. Assim, para claramente colocar a questão, um estudante toma muito mais cuidado com o cabelo do que com o fato. A enormidade do lucro torna o alfaiate essencialmente credor, enquanto a modéstia da soma faz do chapeleiro um dos seres mais execráveis com quem se tem de negociar. Se o jovem sentado no camarote de um teatro oferece aos binóculos das belas mulheres coletes estonteantes, duvida-se que tenha meias; o fabricante de malhas é mais um gorgulho na sua bolsa. Rastignac tinha chegado a esse ponto. Sempre vazia para a Senhora Vauquer, sempre cheia para as exigências da vaidade, a bolsa dele tinha reversos e sucessos lunáticos em desacordo com os pagamentos mais naturais. Para deixar a pensão malcheirosa, ignóbil, onde periodicamente se humilhavam as suas pretensões, não teria de pagar um mês à sua hospedeira e comprar móveis para o apartamento de dândi? Era sempre uma coisa impossível. Se, para encontrar o dinheiro necessário para
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