O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 151 / 279

Seria indigno do seu destino se não gastasse 3000 francos no alfaiate, 600 francos na perfumaria, 100 ecus nas botas, 100 ecus no chapeleiro, Quanto à sua lavadeira, irá custar-lhe 1000 francos. Os jovens na moda não podem deixar de estar bem apetrechados, querem belas toalhas nos seus altares. Chegamos a 14 000. Não lhe falo daquilo que irá perder no jogo, em apostas, em presentes; é impossível contar com menos de 2000 francos para o dia-a-dia. Já tive essa vida, conheço os seus gastos. Acrescentai a essas primeiras necessidades 300 luíses para a comida, 1000 francos para o alojamento. Então, meu filho, chegamos à módica quantia de 25000 por ano na barriga, ou caímos na lama, fazem pouco de nós, e perdemos o nosso futuro, os nossos sucessos, as nossas amantes! Estou a esquecer-me do criado de quarto e do moço de recados! Será o Christophe que lhe levará os seus bilhetes carinhosos? Irá escrevê-los no papel que utiliza? Seria puro suicídio. Acreditai num velho cheio de experiência! - fazendo um rinforzado na sua voz de baixo - Ou vos deportais para uma casta mansarda, e vos casais lá com o trabalho, ou tomai outro caminho.

E Vautrin piscou o olho apontando para a menina Taillefer de forma a lembrar e resumir nesse olhar as sedutoras razões que tinha plantado no coração do estudante para o corromper. Vários dias se passaram durante os quais Rastignac levou a mais distraída das vidas. Jantava quase todos os dias com a senhora de Nucingen, que acompanhava para todo o lado. Voltava às 3 e 4 horas da manhã, levantava-se ao meio-dia para se preparar, ia passear no bosque com Delphine, quando estava bom tempo, desperdiçando desta forma o seu tempo sem saber o preço do mesmo, e aspirando a todos os ensinamentos, todas as seduções do luxo com o ardor que tem o impaciente cálice de uma tamareira fêmea para com os fecundantes pós de seu hímen.





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