Capítulo 1: O PAI GORIOT
Página 153
o jogo, Rastignac sabia comprar no seu ourives relógios e fios muito bem pagos sobre os seus lucros, e que levava para penhorar, este sombrio e discreto amigo da juventude encontrava-se sem invenções tanto como sem audácia quando se tratava de pagar a comida, o quarto, ou comprar as ferramentas necessárias para a exploração da vida elegante. Uma necessidade vulgar, dívidas contraídas para necessidades já satisfeitas, não o inspiravam mais. Como a maior parte daqueles que conheceram essa vida de acaso, esperava pelo último momento para saldar letras sagradas aos olhos dos burgueses, como o fazia Mirabeau, que só pagava o pão quando este aparecia sob uma forma ameaçadora de uma letra de câmbio. Por esta época, Rastignac tinha perdido o dinheiro e estava cheio de dívidas. O estudante começava a compreender que lhe seria impossível continuar a ter esta existência sem ter rendimentos fixos. Mas, enquanto gemia atingido pelas picadas da sua precária situação, sentia-se incapaz de renunciar às alegrias excessivas dessa vida e queria continuar nela custasse o que custasse. Os acasos sobre os quais tinha contado para fazer fortuna tornavam-se quimeras e os reais obstáculos aumentavam. Ao iniciar-se nos segredos domésticos do senhor e da senhora de Nucingen tinha-se apercebido que para converter o amor em instrumento de fortuna tinha-se de ter bebido toda a vergonha e renunciado às nobres ideias que são a absolvição dos erros da juventude. Esta vida exteriormente esplêndida, mas roída por todos as ténias do remorso, e cujos fugitivos prazeres eram muito bem expiados com persistentes angústias, tinha-a desposado e rolava-se nela fazendo, como o Distrait de la Bruyere, uma cama na lama da vala; mas tal como o Distrait, ainda só sujava o fato.
|
|
 |
Páginas: 279
|
|
|
|
|
|
Os capítulos deste livro:
|
|
|