O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 167 / 279

- Mas não vejo então em que posso ser-lhe útil nessa verificação, conjectura essa que eu consentiria a fazer por 2000 francos.

- Nada mais fácil- disse o desconhecido. - Irei entregar-lhe um frasco contendo uma dose de licor preparado para provocar um pequeno ataque cardíaco sem qualquer perigo e que simula uma apoplexia. Essa droga pode misturar-se tanto no café corno no vinho. Imediatamente transportará o homem para uma cama e irá despi-lo para saber se não está a morrer. Quando estiver sozinha, irá dar-lhe uma palmada no ombro, paf! E verá aparecer as letras.

- Mas isso não é nada - disse Poiret.

- Pois! Bem, consente? - disse Gondureau à rapariga.

- Mas, meu caro senhor - disse a menina Michonneau -, no caso de não haver letras, terei na mesma os 2000 francos?

- Não.

- Qual seria então a indemnização?

- 500 francos.

- Fazer tal coisa por tão pouco. O mal na consciência é o mesmo e eu tenho de acalmar a minha consciência!

- Afirmo-lhe - disse Poiret - que a menina tem muito boa consciência, além de que é uma pessoa muito amável e bem vista.

- Pois! Bem - retomou a menina Michonneau - dai-me 3000 francos se ele é o Morte-em- Pé, e nada se for um burguês.

- Tudo bem - disse Gondureau -, mas na condição de que o assunto seja resolvido amanhã.

- Ainda: não, meu caro senhor, preciso de consultar o meu confessor.

- Manhosa! - disse o agente, levantando-se. - Até amanhã então. E se por acaso tiver pressa em falar-me, venha à Rua de Sainte-Anne, ao fundo do pátio da Sainre-Chapelle. Só existe uma porta debaixo do arco. Perguntai pelo senhor Gondureau.

Bianchon, que voltava da aula de Cuvier, ficou chocado com essa palavra de Morte-em- Pé tão original, e ouviu o tudo bem na resposta do célebre chefe da polícia de segurança.





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