O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 166 / 279

- Mas por que é que - disse a menina Michonneau - o Morte-em-Pé não foge com o dinheiro?

- Oh! - respondeu o agente. - Para onde quer que fosse, seria seguido de um homem encarregado de o matar, se roubasse o dinheiro. Além disso, um banco deste tipo não se rouba tão facilmente quanto uma menina numa boa casa. Ainda por cima, Collin é um rapazola incapaz de fazer tal coisa, achar-se-ia desonrado.

- Senhor - disse Poiret -, tem razão, seria completamente desonrado.

-Tudo isto não nos diz por que pura e simplesmente não o prendem - perguntou a menina Michonneau.

- Pois bem! Menina, vou responder... Mas - disse-lhe ao ouvido, - impeça o seu amigo de me interromper, ou nunca mais acabaremos. Deve ter muita sorte por se fazer ouvir, esse velho. O Morte-em-Pé, ao vir para aqui, vestiu a pele de um homem honesto, tornou-se burguês de Paris, alojou-se numa pensão simples; é fino, vá lá! Nunca o apanharemos de surpresa. Portanto, o senhor Vautrin é um homem considerado, que faz negócios interessantes.

«Naturalmente», pensou Poiret.

- O ministro, se nos enganássemos ao prender um verdadeiro Vautrin, não quer ter às costas o comércio de Paris, nem a opinião pública. O senhor prefeito da polícia sente-se ameaçado, tem inimigos. Se houvesse um erro, os que querem o lugar dele aproveitariam os mexericos e os alaridos liberais para o pôr fora de campo. Trata-se aqui de proceder como no caso de Cogniard, o falso conde de Santa-Helena; se fosse um verdadeiro conde de Santa-Helena, estaríamos em belos lençóis. Por isso tem de se verificar!

- Sim, mas precisa de uma bela mulher - disse com vivacidade a menina Michonneau.

- O Morte-em-Pé não se deixaria abordar por uma mulher. - disse o agente. -Aprendei um segredo, ele não gosta de mulheres.





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