O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 202 / 279

Pagámos, ficamos - disse Poiret, pondo o boné e sentando-se numa cadeira junto da menina Michonneau, que a senhora Vauquer tentava convencer.

- Mau - disse-lhe o pintor com um ar cómico, mauzão -, vá!

- Bom, se não partem, vamos nós embora - disse Bianchon.

E os pensionistas fizeram em conjunto um movimento em direcção ao salão.

- Menina, o que quer? - gritou a senhora Vauquer. - Estou arruinada. Não pode ficar, vão acabar por se tornar violentos.

A menina Michonneau levantou-se.

- Ela partirá!

- Não partirá!

- Irá embora!

- Não irá!

Estas palavras ditas alternadamente, e a hostilidade contida nos termos que começavam a chover sobre ela, obrigaram a menina Michonneau a sair, após algumas estipulações feitas com a hospedeira.

- Vou para casa da senhora Buneaud - disse com um ar ameaçador.

- Ide para onde quiserdes, menina - disse a senhora Vauquer, que viu uma injúria cruel na escolha que fazia por uma casa com a qual rivalizava, e que lhe era por isso insuportável. - Ide para casa da Buneaud, terá lá vinho rançoso e pratos comprados em segunda mão.

Os pensionistas fizeram duas filas no maior silêncio. Poiret olhou com tanta temura para a menina Michonneau, mostrou-se tão ingenuamente indeciso, sem saber se devia segui-la ou ficar, que os pensionistas, felizes com a partida da menina Michonneau, começaram a rir olhando-se uns aos outros.

- Xi, xi, xi, Poiret - gritou-lhe o pintor. - Vamos lá, decida-se.

O empregado do Museu de História Natural pôs-se a cantar comicamente este inicio de uma cantiga bem conhecida:


Partindo para a Síria
jovem e belo Dunois...

- Vamos lá, está a morrer de vontade, trahit sua quem que voluptas - disse Bianchon.

- Cada um segue a sua amada, tradução livre de Virgílio - disse o «papagaio».





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