O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 207 / 279

que está em todo o lado e que sabemos estar aqui sem o vermos! Pois bem Delphinette, Ninett, Dedel! Não tive razão ao dizer-te: «Há um belo apartamento na Rua d'Artois, vamos mobilá-lo para ele!» Tu não querias. Ah! Sou eu o autor da tua alegria, como sou o autor dos teus dias. Os pais devem sempre dar para serem felizes. Dar sempre, é o que faz sermos pais.

- Como? - disse Eugène.

- Sim, ela não queria, tinha medo daquilo que se pudesse dizer, como se o mundo valesse a felicidade! Mas todas as mulheres sonham fazer o que ela fez...

O pai Goriot falava sozinho, a senhora de Nucingen tinha levado Rastignac para o gabinete onde o barulho de um beijo soou, apesar de dado ao de leve. Esta divisão estava de acordo com a harmonia do apartamento, no qual nada faltava.

- Será que adivinhámos bem os seus desejos? - disse ela, voltando para o salão para pôr a mesa.

- Sim - disse o rapaz -, demasiado bem. Infelizmente! Este luxo tão completo, estes belos sonhos realizados, todas as poesias de uma vida jovem, elegante, sinto-os demasiado para não os merecer, mas não os posso aceitar de si e sou demasiado pobre ainda para...

- Ah! Ah! Já me está a resistir - disse ela com um pequeno ar de autoridade brincalhona fazendo uma dessas belas caretas que fazem as mulheres quando querem gozar com algum escrúpulo para melhor o afastar.

Eugène tinha-se interrogado de forma demasiado solene durante este dia, e a prisão de Vautrin, ao mostrar-lhe a profundidade do abismo no qual tinha quase caído, tinha corroborado os seus sentimentos nobres e a sua delicadeza para que cedesse a esta refutação acariciante das suas generosas ideias. Uma tristeza profunda apoderou-se dele.

- Como! - disse a senhora de Nucingen. -. Recusaria? Sabe o que significa tal recusa? Duvida do futuro, não ousa ligar-se a mim.





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