O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 208 / 279

Tem então medo de trair o meu afecto? Se me ama, se eu... o amo, porque recua frente a obrigações tão pequenas? Se conhecesse o prazer que tive em ocupar-me de todo este equipamento para si rapaz, não hesitaria, e pedir-me-ia perdão. Tinha dinheiro seu, empreguei-o bem, mais nada. O Eugène pensa ser grande, e é pequeno. Pede muito mais... -Ah! - disse ela, apanhando um olhar de paixão em Eugenc -, e está a fazer-me cenas por bagatelas. Se você não me ama, ohl, sim, não aceitai. A minha vida está numa palavra. Fale? Mas, meu pai, dai-lhe alguns bons conselhos acrescentou virando-se para o pai após uma pausa. - Será que ele pensa que sou menos melindrosa do que ele sobre a nossa honra?

O pai Goriot tinha o sorriso fixo de um fumador de ópio ao ver, ao ouvir esta bela discussão.

- Minha criança, você está na entrada da vida - recomeçou ela, pegando na mão de Eugène. - Encontra uma barreira incontornável para muitas pessoas, uma mão de mulher dá-lhe a chave da porta de passagem, e você recua! Mas terá êxito, alcançará uma fortuna brilhante, o sucesso está escrito nessa bela testa. Não poderá então devolver-me aquilo que lhe empresto hoje? Antigamente, as senhoras não davam aos seus cavaleiros armaduras, espadas, capacetes, cotas de malha, cavalos, para que pudessem ir combater em nome delas nos torneios? Pois bem, Eugène, as coisas que lhe ofereço são as armas daquela altura, instrumentos necessários para quem quer ser alguém. É bonito, o sótão onde você vive, se for igual ao quarto do papá. Vejamos, será que não vamos jantar? Quer entristecer-me? Responda-me então? - disse-lhe, sacudindo-lhe a mão. - Meu Deus, papá, fá-lo decidir, senão saio e não o volto a ver mais.

- Vou convencê-lo - disse o pai Goriot, saindo do êxtase em que se encontrava.





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