Procurou na bolsa algo para poder pagar imediatamente o cocheiro. A bolsa desta jovem mulher, tão rica, tão elegante, continha 700 francos. Chegado ao cima das escadas, encontrou o pai Goriot apoiado por Bianchon, e operado pelo cirurgião do hospital, debaixo dos olhos do médico. Queimavam-lhe as costas com moxas, último remédio da ciência, remédio inútil.
- Está a senti-los? - perguntava o médico.
O pai Goriot, tendo avistado o estudante, respondeu: - Elas vêm, não é verdade?
- Pode safar-se - disse o cirurgião -, está a falar.
- Sim - respondeu Eugène. - Delphine vem atrás de mim.
- Vamos! - disse Bianchon. - Falava das filhas, atrás de quem grita como um homem grita na cruz, diz-se, depois da água...
- Basta - disse o médico ao cirurgião -, não há mais nada a fazer, não o salvaremos.
Bianchon e o cirurgião voltaram a deitar o moribundo na sua tarimba nojenta.
- Teremos, no entanto, de mudar a roupa - disse o médico. - Apesar de não haver qualquer esperança, temos de respeitar nele a natureza humana. Voltarei, Bianchon - disse ao estudante. Se voltar a queixar-se, meta-lhe ópio sobre o diafragma.
O cirurgião e o médico saíram.
- Vamos, Eugène, coragem, meu filho! - Disse Bianchon a Rastignac quando ficaram sós - Temos de vestir-lhe uma camisa branca e mudar os lençóis. Vá dizer a Sylvie que traga lençóis e nos venha ajudar.
Eugène desceu e encontrou a senhora Vauquer ocupada a pôr a mesa com a Sylvie. Às primeiras palavras que Rastignac lhe disse, a viúva veio ter com ele, tomando o ar amargamente doce de uma feirante desconfiada que não gostaria nem de perder o dinheiro, nem de zangar o cliente.
- Meu caro senhor Eugène - respondeu -, sabe tão bem quanto eu que o pai Goriot não tem um tostão.