O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 270 / 279

Dar lençóis a esse homem a bater a bota é perdê-los, além de que terá de se sacrificar um para a mortalha. Além disso, já me deve 44 francos, ponha 40 francos para lençóis, e mais algumas coisas, a vela que a Sylvie vos dará, tudo isso perfaz pelo menos 200 francos, que uma pobre viúva como eu não está em medida de perder. Que diabo! Seja justo, senhor Eugène, já perdi bastante, desde há cinco dias que o azar se instalou na minha casa. Teria dado 10 ecus para que o velhote tivesse ido embora durante esses dias, como o dizia. Isso afecta os meus pensionistas. Por nada, fá-lo-ia transportar ao hospital. Enfim, ponha-se no meu lugar. O meu estabelecimento antes de mais nada é a minha vida.

Eugène subiu rapidamente ao quarto do pai Goriot.

- Bianchon, o dinheiro do relógio?

- Está ali em cima da mesa, restam 360 e tal francos. Paguei com aquilo que me deram tudo o que devíamos. O reconhecimento para o Mont-Piété está debaixo do dinheiro.

- Tomai, senhora - disse Rastignac após ter com horror descido a correr as escadas -, fechai as nossas contas. O senhor Goriot não ficará muito tempo na sua casa, e eu...

- Sim, sairá com os pés para a frente, pobre velhote - disse esta, contando 200 francos, com um ar meio alegre, meio melancólico.

- Acabemos - disse Rastignac.

- Sylvie, dá os lençóis e ide ajudar esses senhores lá em cima...

- Não se esquecerá da Sylvie - disse a senhora Vauquer ao ouvido de Eugène -, há duas noites que não dorme.

Logo que Eugène virou as costas, a velha foi a correr ter com a cozinheira:

- Levai os lençóis passajados, número sete. Por Deus, sempre é bom de mais para um morto - disse-lhe ao ouvido.

Eugène, que já tinha subido algumas escadas, não ouviu estas palavras da velha hospedeira.





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