- Onde é que tu puseste...? - perguntou-lhe ela com ar de mistério, apontando-lhe a velha senhora com um mover de olhos e sem concluir a frase.
Embora o pasteleiro só pudesse ver a imensa touca guarnecida de seda preta enfeitada com laços de fita violeta, que a desconhecida trazia na cabeça, logo desapareceu depois de relancear uma mirada à mulher que parecia dizer: «Julgas que eu ia deixar isso no teu balcão?...» Surpreendida com o silêncio e a imobilidade da velha senhora, a pasteleira voltou a aproximar-se; e, ao vê-la, apoderou-se dela um sentimento de compaixão e talvez também de curiosidade. Posto que a tez daquela mulher fosse naturalmente lívida como a de uma criatura votada a secretas austeridades, era fácil verificar que qualquer recente emoção lhe provocara uma palidez extraordinária. A touca estava enfiada pela cabeça de forma a esconder-lhe os cabelos, sem dúvida embranquecidos pela idade, pois o asseio do cabeção do vestido dava a entender que não usava pó de arroz.
Esta carência de adornos imprimia à sua máscara uma espécie de severidade religiosa.