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Capítulo 1: UM EPISÓDIO NO TEMPO DO TERROR

Página 3
Os seus traços eram graves e finos. Outrora as maneiras e os hábitos das pessoas de qualidade eram tão diferentes dos das pessoas de outras classes, que facilmente se distinguia uma criatura nobre. Por isso a jovem pasteleira estava convencida de que a desconhecida era uma antiga fidalga e que pertencera à corte.

- Minha senhora - disse ela, involuntariamente, e com respeito, esquecida de que esse tratamento estava proibido.

A velha senhora não respondeu. Tinha os olhos fitos nos vidros da pastelaria, como se um objecto medonho lá estivesse estampado.

- Que tens tu, cidadã? - perguntou o dono da loja, que logo voltou a aparecer.

O cidadão pasteleiro arrancou a senhora à sua cisma, apresentando-lhe uma caixinha de cartão embrulhada em papel azul.

- Nada, nada, meus amigos - replicou ela, numa voz mansa.

Ergueu os olhos para o pasteleiro, como para lhe relancear um olhar agradecido; mas, ao ver-lhe um barrete vermelho na cabeça, deixou escapar um grito:

- Ah! atraiçoaram-me!...

A jovem e o marido responderam-lhe com um gesto de horror, que fez corar a desconhecida, ou fosse por ter desconfiado deles ou fosse por satisfação.

- Desculpe-me - disse ela então com uma doçura infantil.

Depois, tirando um luís de oiro da algibeira, apresentou-o ao pasteleiro:

- Aqui tem o preço combinado - acrescentou ela.

Há uma indigência que os indigentes sabem adivinhar. O pasteleiro, e a mulher olharam um para o outro e encararam com a velha senhora, ambos animados de um mesmo pensamento. Aquele luís de oiro devia ser o último. As mãos da senhora tremiam ao apresentar a moeda, que ela contemplava com dor e sem avareza, mas como se medisse bem toda a extensão daquele sacrifício. O jejum e a miséria estavam estampados naquele rosto em traços tão legíveis como os do medo e os hábitos ascéticos.

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UM EPISÓDIO NO TEMPO DO TERROR 1