— Aqui não há outra coisa que fazer, senhor D. Luís, senão ter paciência e voltar para casa, se Vossa Mercê não deseja que seu pai e meu senhor faça a viagem do outro mundo, porque se não pode esperar outra coisa do pesar que lhe causa a vossa ausência.
— Pois como soube meu pai — disse D. Luís — que eu vinha por este caminho e com este trajo?
— Um estudante — respondeu o criado — a quem destes conta dos vossos pensamentos, foi quem o descobriu, compadecido das lástimas que vosso pai fazia quando deu pela vossa falta; e logo enviou quatro dos seus criados em vossa busca, e todos aqui estamos ao vosso serviço, mais contentes do que se pode imaginar, pelo bom despacho com que tornaremos, levando-vos à presença de quem tanto vos quer.
— Isso será se for da minha vontade, ou se o céu o ordenar — respondeu D. Luís.
— O céu ordena que regresseis a casa, nem outra coisa é possível.
Todas estas razões as ouviu o arrieiro, junto de quem estava D. Luís; e levantando-se dali foi contar o que se passava a D. Fernando e a Cardênio e aos outros que já se tinham vestido, e a quem disse que o homem que viera dava dom ao rapaz, e queria que ele voltasse a casa de seu pai, e que o moço não queria. Com isto e com o que sabiam já, da boa voz que o céu lhe tinha dado, vieram todos com grande desejo de saber mais particularmente quem era, e também de o ajudar, se alguma violência lhe quisessem fazer, e assim foram ter ao sítio onde ele ainda estava falando e porfiando com o seu criado.
Nisto, saiu Dorotéia do seu aposento e atrás dela D. Clara, toda turbada, e, chamando Dorotéia de parte a Cardênio, lhe contou em breves razões a história do músico e de D. Clara, e Cardênio referiu-lhe que tinham vindo a buscar D.