Enquanto D. Quixote dizia isto, estava o cura convencendo os quadrilheiros de que ele era falto de juízo, como viam pelas suas obras e palavras, e não tinham motivo para ir com esse negócio por diante, porque, ainda que o prendessem e levassem, logo teriam de o deixar como louco; ao que respondeu o do mandado que lhe não competia julgar da loucura de D. Quixote, mas fazer o que lhe ordenavam, e que, preso uma vez, podiam-no soltar trezentas.
— Com tudo isso — acudiu o cura — desta vez não o levareis, nem ele se deixará levar, pelo que eu vejo.
Efetivamente, o cura tanto lhes disse, e D. Quixote tantas loucuras fez, que mais doidos seriam do que ele os quadrilheiros, se lhe não conhecessem a falta de siso, e assim houveram por bem apaziguar-se, e até servir de medianeiros para se fazerem as pazes entre Sancho Pança e o barbeiro, que ainda insistiam, com grande rancor, na sua pendência. Finalmente, eles, como membros da justiça, se fizeram árbitros da causa e partiram a contenda ao meio, mandando que se trocassem as albardas, mas não o resto do aparelho, ficando assim as duas partes não de todo contentes, mas alguma coisa satisfeitas; e, enquanto ao elmo de Mambrino, o cura à socapa, e sem que D. Quixote o percebesse, deu ao barbeiro oito reais, e em troca lhe passou ele recibo e promessa de o não demandar em tempo algum, amém.
Sossegadas, pois, estas duas pendências, que eram as principais e de mais tomo, restava que os criados de D. Luís se resignassem a separar-se, indo-se três embora e ficando um para o acompanhar ao sítio aonde D. Fernando o levava; e como já a boa sorte e melhor fortuna