Conta a história que, quando D. Quixote bradava por Sancho que lhe trouxesse o elmo, estava ele comprando uns requeijões, que os pastores lhe vendiam; e, acossado pela muita pressa de seu amo, não soube o que lhes havia de fazer, nem como havia de trazê-los, e, para os não perder, porque os tinha já pago, lembrou-se de os deitar no elmo de seu amo, e com este bom recato voltou a ver o que lhe queria D. Quixote, que, assim que o viu, lhe disse:
— Amigo, dá-me esse elmo, que, ou pouco sei de aventuras, ou o que ali descubro é alguma, que me há-de obrigar a pegar em armas.
O do Verde Gabão, que isto ouviu, estendeu a vista por todas as partes, e não descobriu outra coisa senão um carro que para eles vinha, com duas ou três bandeiras pequenas, que lhe fizeram supor que o tal carro devia trazer dinheiro de Sua Majestade, e assim o disse a D. Quixote; mas este não lhe deu ouvidos, acreditando sempre e pensando que tudo o que lhe sucedesse havia de ser aventuras e mais aventuras; e, portanto, respondeu ao fidalgo:
— Homem apercebido vale por dois; não se perde nada em eu me aperceber, que sei por experiência que tenho inimigos visíveis e invisíveis, e não sei quando, nem onde, nem em que tempo, nem em que figura me hão-de atacar.
E, voltando-se para Sancho, pediu-lhe o elmo; e Sancho, não tendo ensejo de tirar os requeijões, deu-lho como estava. Pegou-lhe D. Quixote e, sem ver o que vinha dentro, encaixou-o a toda a pressa na cabeça; e, como os requeijões se espremeram e apertaram, começou a correr o soro por todo o rosto e barbas de D. Quixote, o que