— Isso de eructar é que eu não entendo — interrompeu Sancho.
— Eructar, Sancho, quer dizer arrotar, e este é um dos vocábulos mais torpes que tem a nossa língua, apesar de ser muito significativo, e então a gente delicada apelou para o latim, e ao arrotar chama eructar; e ainda que alguns não entendam estes termos, pouco importa, que o uso os irá introduzindo com o tempo, de forma que facilmente se compreendam; e isto é enriquecer a língua, sobre a qual têm poder o vulgo e o uso.
— Em verdade, senhor — disse Sancho — um dos conselhos que hei-de levar bem de memória é o de não arrotar, por ser uma coisa que faço muito a miúdo.
— Eructar, Sancho, e não arrotar — observou D. Quixote.
— Pois seja eructar, e assim direi daqui por diante.
— Também, Sancho, não metas a cada instante nas tuas falas uma caterva de rifões, como costumas, que ainda que os rifões são sentenças breves, muitas vezes os trazes tanto pelos cabelos, que mais parecem disparates do que sentenças.
— A isso é que só Deus pode dar remédio — respondeu Sancho — porque sei mais rifões que um livro, e acodem-me à boca juntos tantos quando falo, que bulham uns com os outros para sair, e a língua vai deitando para fora os primeiros que encontra, ainda que não venham muito a pêlo; mas