— Vou tratar disso, mãe — respondeu Sanchita — mas olhe que me há-de dar metade desse colar, que a senhora duquesa não é tão tola que lho mandasse todo a vossemecê.
— Pois todo é para ti, filha, mas deixa-mo trazer alguns dias, que me alegra a alma.
— Ainda mais se hão-de alegrar — disse o pajem — em vendo a trouxa que eu aqui trago, e em que vem um fato de pano verde, finíssimo, que o senhor governador só vestiu uma vez para ir à caça, e que manda para a menina Sanchita.
— Viva ele mil anos, e o enviado outro tanto — bradou Sanchita — e até dois mil, se necessário for!
Nisto, saiu Teresa de casa, com as cartas, e o colar ao pescoço, e ia tangendo as cartas, como se fossem um pandeiro; e, encontrando o cura e Sansão Carrasco, principiou a bailar e a dizer:
— Por minha fé, que não há aqui parente pobre: temos um governicho, e que se meta comigo a mais pintada fidalga, que a faço em frangalhos.
— Que é isso, Teresa Pança? que loucuras são essas e que papéis são esses?
— Não é loucura nenhuma, e isto são cartas de duquesas e de governadores, e o que trago ao pescoço são corais finos, e eu sou governadora.
— Por Deus, não vos entendemos, Teresa, nem sabemos o que dizeis.
— Aí podem ver — respondeu Teresa.