— Eu lhe digo, senhor — respondeu Sancho — a sova que tenciono pregar em mim próprio, tanto me importa que seja em casa, como no campo, mas, com tudo isso, desejaria antes entre arvoredos; parece que me acompanham e me ajudam a levar o meu trabalho maravilhosamente.
— Pois não há-de ser assim, Sancho amigo — respondeu D. Quixote; — como é necessário que tomes forças, guardemos isso para a nossa aldeia, aonde chegaremos, o mais tardar, depois de amanhã.
Sancho respondeu que fizesse o que quisesse, mas que ele, por si, preferia concluir aquele negócio com a maior brevidade possível, porque tudo está no principiar; e não guardes para amanhã o que podes fazer hoje; e Deus ajuda a quem madruga; e mais vale um toma, que dois te darei, e um pássaro na mão, que dois a voar.
— Basta de rifões, Sancho, em nome de Deus verdadeiro — disse D. Quixote — que parece que voltas ao sicut erat; fala claro e liso, e chão, como fazes muitas vezes, e verás que assim hás-de medrar.
— Isto em mim é uma desgraça — tornou Sancho — parece que não sei alinhavar um arrazoado sem lhe meter um rifão.
E, com isto, cessou a sua prática.