Conhecidos são os desgostos que lhe proporcionou o manifestar esta opinião, que em sua época pareceu atrevida. Porém era só a consequência da convicção que tinha da onipotência de Deus e da debilidade do homem. Não assegurou que a matéria pensa, porém disse que não sabemos bastante para demostrar que é impossível que Deus agregue o dom do pensamento ao ser desconhecido que chamamos matéria, depois de ter nos concedido o dom da gravitação e o dom do movimento, que não são igualmente incompreensíveis.
Locke não foi o único que iniciou esta opinião; indubitavelmente já o abordou antiguidade, posto que considerava a alma como uma matéria muito delicada, e por consequência, assegurava que a matéria podia sentir e pensar.
Esta foi também a opinião de Gassendi, como se pode ver nas objeções que fez a Descartes: é verdade, diz Gassendi, que sabeis que pensais, porém não sabeis que espécie de substância sois. Portanto, ainda que seja conhecida a operação do pensamento, desconheces o principal de vossa essência, ignorando qual é a natureza dessa substância, da que o ato de pensar é uma das operações.