Suponho que há numa ilha uma dúzia de filósofos bons, e que em essa ilha não tem visto mais que vegetais. Esta ilha, e sobretudo os doze filósofos bons, são difíceis de encontrar; porém permita-me esta ficção. Admiram a vida que circula pelas fibras das plantas, que parece que se perde e se renova em seguida; e não compreendendo bem como as plantas nascem, como se alimentam e crescem, chamam a estas operações alma vegetativa.
«Que entendeis por alma vegetativa?
– É uma palavra, respondem, que serve para explicar a mola desconhecida que move a vida das plantas.
– Porém não compreendeis, lhes replica um mecânico, que esta a desenrola os pesos, as alavancas, as rodas e as polias?
– Não, replicarão ditos filósofos; em sua vegetação há algo mais que movimentos ordinários; existe em todas as plantas o poder secreto de atrair o sumo que as nutre: e esse poder, que não pode explicar nenhum mecânico, é um dom que Deus concedeu à matéria, cuja natureza nos é desconhecida».
Depois dessa questão, os filósofos descobrem os animais que há na ilha, e logo de examiná-los atentamente, compreendem que há outros seres organizados como os homens. Esses seres é indubitável que tem memória, conhecimento, que estão dotados das mesmas paixões que nós, que nos fazem compreender suas necessidades, e como nós, perpetuam sua espécie. Os filósofos dissecam alguns animais, lhes encontram coração e cérebro, e exclamam: «O autor dessas máquinas, que não cria nada inútil, lhes tivesse concedido todos os órgãos do sentimento com o propósito de que não sentissem?