A Escrava Isaura - Cap. 13: Capítulo 13 Pág. 109 / 185

- Com efeito! - acrescentou outro - uma escrava assim vale a pena apreendê-la, mais pelo que vale em si, do que pelos cinco contos. Se eu a pilho, nenhuma vontade teria de entregá-la ao seu senhor.

- Já não me admira que o Martinho a procure aqui; uma criatura tão perfeita só se pode encontrar nos palácios dos príncipes.

- Ou no reino das fadas; e pelos sinais e indícios estou vendo que não pode ser outra senão essa nova divindade que hoje apareceu...

- Sem mais nem menos; deu no vinte, - atalhou Martinho, e chamando-os para junto da porta: - Agora venham cá, - continuou, - e reparem naquela bonita moça, que dança de par com Álvaro. Pobre Álvaro como está cheio de si! se soubesse com quem dança, caía-lhe a cara aos pés. Reparem bem, meus senhores, e vejam se não combinam perfeitamente os sinais?...

- Perfeitamente! - acudiu um dos moços, - é extraordinário! lá vejo o sinalzinho na face esquerda, e que lhe dá infinita graça. Se tiver a tal asa de borboleta sobre o seio, não pode haver mais dúvida. Ó céus! é possível que uma moça tão linda seja uma escrava!

- E que tenha a audácia de apresentar-se em um bailes destes? - acrescentou outro. - Ainda não posso capacitar-me.

- Pois cá para mim, - disse o Martinho - o negócio é liquido, assim como os cinco contos, que me parece estarem já me cantando na algibeira; e até logo, meus caros.

E dizendo isto dobrou cuidadosamente o anúncio, meteu-o na algibeira, e esfregando as mãos com cínico contentamento, tomou o chapéu, e retirou-se.

- Forte miserável... - disse um dos comparsas - que vil ganância de ouro a deste Martinho! estou vendo que é capaz de fazer prender aquela moça aqui mesmo em pleno baile.

- Por cinco contos é capaz de todas as infâmias do mundo.





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