Os outros se agruparam curiosos em torno dele.
- Escutem bem, - continuou Martinho. - Cinco contos! - eis o título pomposo, que em eloquentes e graúdos algarismos se acha no frontispício desta obra imortal, que vale mais que a Ilíada de Camões...
- E que os Lusíadas de Homero, não é assim, Martinho? Deixa-te de preâmbulos asnáticos, e vamos ao anúncio.
- Eu já lhes satisfaço, - disse Martinho, e continuou lendo: - Fugiu da fazenda do Sr. Leôncio Gomes da Fonseca, no município de Campos, província do Rio de Janeiro, uma escrava por nome Isaura, cujos sinais são os seguintes: Cor clara e tez delicada como de qualquer branca; olhos pretos e grandes; cabelos da mesma cor, compridos e ligeiramente ondeados; boca pequena, rosada e bem feita; dentes alvos e bem dispostos; nariz saliente e bem talhado; cintura delgada, talhe esbelto, e estatura regular; tem na face esquerda um pequeno sinal preto, e acima do seio direito um sinal de queimadura, mui semelhante a uma asa de borboleta. Traja-se com gosto e elegância, canta e toca piano com perfeição. Como teve excelente educação e tem uma boa figura, pode passar em qualquer parte por uma senhora livre e de boa sociedade. Fugiu em companhia de um português, por nome Miguel, que se diz seu pai. É natural que tenham mudado o nome. Quem a apreender, e levar ao dito seu senhor, além de se lhe satisfazerem todas as despesas, receberá a gratificação de 5:OOO$OOO.
- Deveras, Martinho? - exclamou um dos ouvintes, - está nesse papel o que acabo de ouvir? acabas de nos traçar o retrato de Vênus, e vens dizer-nos que é uma escrava fugida!...
- Se não querem acreditar ainda, leiam com seus próprios olhos: aqui está o papel...