A Escrava Isaura - Cap. 14: Capítulo 14 Pág. 114 / 185

E o sangue todo lhe refluía ao coração, que lhe tremia como o da pomba que sente estendida sobre o colo a garra desapiedada do gavião.

Em tal estado de susto e perturbação, Isaura não atinava com o que devia responder àquela tão sincera e apaixonada declaração do mancebo. Guardou silêncio por alguns instantes, o que Álvaro interpretou por timidez ou emoção.

- Não me quer responder? - continuou com voz meiga, - uma só palavra é bastante...

- Ah! senhor, - murmurou ela suspirando, - o que posso eu responder às doces palavras que acabo de ouvir de sua boca? Elas me encantam, mas...

Elvira interrompeu-se bruscamente; um súbito estremecimento agitando o braço de Álvaro o fez olhar para ela com sobressalto e inquietação.

- É ele!... - este som sussurrou-lhe pelos lábios como um gemido rouco e convulsivo; acabava de avistar Martinho, entrando na sala em que se achavam, e sentiu mortal calafrio percorrer-lhe todo o corpo.

- Desculpe-me, senhor - continuou ela - não é possível por hoje ouvir suas doces palavras; sinto-me mal; preciso retirar-me. Se o senhor tivesse a bondade de levar-me onde está meu pai...

- Por que não, D. Elvira?... mas oh!... como está pálida!... está sofrendo muito, não é assim?... quer que eu a acompanhe?... que lhe chame um médico?... aqui mesmo os há...

- Obrigada, senhor Álvaro; não se inquiete; isto é um mal passageiro, cansaço talvez; em chegando a casa ficarei boa.

- E quer então retirar-se sem me deixar uma só palavra de consolação e de esperança?...

- De consolação talvez, mas de esperança...

- Por que não?

- Se nem eu mesma posso tê-la...

- Então não me ama...

- Amo-o muito.

- Então será minha...

- Isso é impossível...

- Impossível!... que obstáculo pode haver?...

- Não sei dizer-lhe, senhor; minha desgraça.





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