A Escrava Isaura - Cap. 16: Capítulo 16 Pág. 134 / 185

- Nem por sombras posso adivinhá-lo, antes me causa estranheza esse aparato policial, de que vem acompanhado.

- Sua estranheza cessará, sabendo que venho reclamar uma escrava fugida, por nome Isaura, que há muito tempo foi por mim apreendida no meio de um baile, no qual se achava V. S.ª e devendo eu enviá-la a seu senhor no Rio de Janeiro, V. S.ª a isso se opôs sem motivo algum justificável, conservando-a até hoje em seu poder contra todo o direito.

- Alto lá, senhor Martinho! penso que não é pessoa competente para dar ou tirar direito a quem lhe parecer. O senhor bem sabe que eu sou depositário dessa escrava, e que com todo o direito e consentimento da autoridade a tenho debaixo de minha proteção.

- Esse direito, se é que se pode chamar direito a uma arbitrariedade, cessou, desde que V. S.ª nada tem alegado em favor da mesma escrava. E demais, - continuou apresentando um papel, - aqui está ordem expressa e terminante do chefe de polícia, mandando que me seja entregue a dita escrava. A isto nada se pode opor legalmente.

- Pelo que vejo, senhor Martinho, - disse Álvaro depois de examinar rapidamente o papel que Martinho lhe entregara, - ainda não desistiu de seu indigno procedimento, tornando-se por um pouco de dinheiro o vil instrumento do algoz de uma infeliz mulher? Reflita, e verá que essa infame ação só pode inspirar asco e horror a todo o mundo.

Martinho achando-se acostado pela policia, julgou-se com direito de mostrar-se áspero e arrogante, e, portanto, com imperturbável sangue frio:

- Senhor Álvaro, - respondeu, - eu vim a esta casa somente com o fim de exigir em nome da autoridade a entrega de uma escrava fugida, que aqui se acha acoutada, e não para ouvir repreensões, que o senhor não tem direito de dar-me.





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