Julgava de seu dever comunicar-lhe tudo isso para seu governo.
Era este em suma o conteúdo da carta de Martinho, a qual seguiu para o Rio de Janeiro no mesmo paquete que levava a carta de Álvaro, fazendo proposições para a liberdade de Isaura. Leôncio, contente com a descoberta, mas cheio de ciúme e inquietação em vista das informações de Martinho, apressou-se em responder a ambos, e o mesmo paquete que trouxe a resposta insolente e insultuosa que dirigiu a Álvaro, foi portador da que se destinava a Martinho, na qual o autorizava a apreender a escrava em qualquer parte que a encontrasse, e para maior segurança remetia-lhe também procuração especial para esse fim, e mais algumas cartas de recomendação de pessoas importantes para o chefe de policia, para que o auxiliasse naquela diligência.
Martinho mais que depressa dirigiu-se à casa da polícia, e apresentando ao chefe todos esses papéis, requereu-lhe que mandasse entregar-lhe a escrava. O chefe em vista dos documentos de que Martinho se achava munido, entendeu que não lhe era possível denegar-lhe o que pedia, e expediu ordem por escrito, para que lhe fosse entregue a escrava em questão. e deu-lhe um oficial de justiça e dois guardas para efetuarem a diligência.
Foi, portanto, o Martinho, que, munido de todos os poderes, competentemente autorizado pela polícia, apresentou-se com sua escolta à porta da casa de Isaura, para arrebatar a Álvaro a cobiçada presa.
- Ainda este infame! - murmurou Álvaro entre os dentes ao ver entrar o Martinho. - Era um rugido de cólera impotente, que o angustiado mancebo arrancara do íntimo da alma.
- Que deseja de mim o senhor? - perguntou Álvaro em tom seco e altivo.
- V. S.ª que bem me conhece, - respondeu Martinho, - já pode presumir pouco mais ou menos o motivo que aqui me traz.