A Escrava Isaura - Cap. 19: Capítulo 19 Pág. 161 / 185

- Qual gratidão!... pensa vossemecê que ele está fazendo muito caso dela?... tanto como do primeiro sapato que calçou. Aquilo foi um capricho de cabeça estonteada, uma fantasia de fidalgote endinheirado, e a prova aqui está; leia esta carta... O patife tem a sem-cerimônia de escrever-me, como se entre nós nada houvesse, assim com ares de amigo velho, participando-me que se acha casado!... que tal lhe parece esta?... que tenho eu com seu casamento!... Mas isto ainda não é tudo; aproveitando a ocasião, pede-me com todo o desfaçamento que em todo e qualquer tempo, que eu me resolva a dispor de Isaura, nunca o faça sem participar-lhe, porque muito deseja tê-la para mucama de sua senhora! até onde pode chegar o cinismo e a impudência!...

- Com efeito, senhor!... isto da parte do senhor Álvaro é custoso de acreditar!

- Pois capacite-se com seus próprios olhos; leia; não conhece esta letra?...

E dizendo isto Leôncio apresentou a Miguel uma carta, cuja letra imitava perfeitamente a de Álvaro.

- A letra é dele; não resta dúvida, - disse Miguel pasmado do que acabava de ler.

- Há neste mundo infâmias que custa-se a compreender.

- E também lições cruéis, que é preciso não desprezar, não é assim, senhor Miguel?... Pois bem; guarde essa carta para mostrar à sua filha; é bom que ela saiba de tudo para não contar mais com esse homem, e varrer do espírito as fumaças que porventura ainda lhe toldam o juízo. Faça também vossemecê o que estiver em seu possível a fim de predispor sua filha para esse casamento, que é de muita vantagem, e eu não só lhe perdoarei tudo quanto me fica devendo, como lhe restituo o que já me deu, para vossemecê abrir um negócio aqui em Campos e viver tranquilamente o resto de seus dias, em companhia de sua filha e de seu genro.

- Mas quem é esse genro? V. S.ª me não disse ainda.





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