A Escrava Isaura - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 60 / 185

Onde poderia encontrar proteção contra as tirânicas vontades de seu libertino e execrável senhor? Só duas pessoas poderiam ter por ela comiseração e interesse; seu pai e Malvina. Seu pai, obscuro e pobre feitor, não tendo ingresso em casa de Leôncio, e só podendo comunicar-se com ela a custo e furtivamente, em pouco ou nada podia valer-lhe. Malvina, que sempre a havia tratado com tanta bondade e carinho, ai! a própria Malvina, depois da cena escandalosa em que colhera seu marido, dirigindo a Isaura palavras enternecidas, começou a olhá-la com certa desconfiança e afastamento, terrível efeito do ciúme, que torna injustas e rancorosas as almas ainda as mais cândidas e benevolentes A senhora, com o correr dos dias, tornava-se cada vez menos tratável e benigna para com a escrava, que antes havia tratado com carinho e intimidade quase fraternal.

Malvina era boa e confiante, e nunca teria duvidado da inocência de Isaura, se não fosse Rosa, sua terrível êmula e figadal inimiga. Depois do desaguisado, de que Isaura foi causa inocente, Rosa ficou sendo a mucama ou criada da câmara de Malvina, e esta às vezes desabafava em presença da maligna mulata os ciúmes e desgostos que lhe ferviam e transvazavam do coração.

- Sinhá está-se fiando muito naquela sonsa... - dizia-lhe a maliciosa rapariga. - Pois fique certa que não são de hoje esses namoricos; há muito tempo que eu estou vendo essa impostora, que diante da sinhá se faz toda simplória, andar-se derretendo diante de sinhô moço. Ela mesmo é que tem a culpa de ele andar assim com a cabeça virada.





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