A Escrava Isaura - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 65 / 185

Se ela assim procedia por amor, como posso eu largar-te de mão, eu que te amo com outra sorte de amor muito mais ardente e exaltado, um amor sem limites, um amor que me levará à loucura ou ao suicídio, se não... mas que estou a dizer!... Meu pai, Deus lhe perdoe, levado por uma sórdida avareza, queria vender tua liberdade por um punhado de ouro, como se houvesse ouro no mundo que valesse os inestimáveis encantos, de que os céus te dotaram. Profanação!... eu repeliria, como quem repele um insulto, todo aquele que ousasse vir oferecer-me dinheiro pela tua liberdade. Livre és tu, porque Deus não podia formar um ente tão perfeito para votá-lo à escravidão. Livre és tu, porque assim o queria minha mãe, e assim o quero eu. Mas, Isaura, o meu amor por ti é imenso; eu não posso, eu não devo abandonar-te ao mundo. Eu morreria de dor, se me visse forçado a largar mão da jóia inestimável, que o céu parece ter-me destinado, e que eu há tanto tempo rodeio dos mais ardentes anelos de minha alma...

- Perdão, senhor; eu não posso compreendê-lo; diz-me que sou livre, e não permite que eu vá para onde quiser, e nem ao menos que eu disponha livremente de meu coração?!

- Isaura, se o quiseres, não serás somente livre; serás a senhora, a deusa desta casa. Tuas ordens, quaisquer que sejam, os teus menores caprichos serão pontualmente cumpridos; e eu, melhor do que faria o mais terno e o mais leal dos amantes, te cercarei de todos os cuidados e carinhos, de todas as adorações, que sabe inspirar o mais ardente e inextinguível amor. Malvina me abandona!... Tanto melhor! Em que dependo eu dela e de seu amor, se te possuo?! Quebrem-se de uma vez para sempre esses laços urdidos pelo interesse! Esqueça-se para sempre de mim, que eu nos braços de minha Isaura encontrarei sobeja ventura para poder lembrar-me dela.





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